"Quase Natal, as doenças dos outros, correntes, fotografias de crianças e a hipocrisia de quem não quem saber
Estou zangada. Pelo que, se o caro leitor não quiser continuar a ler, esta é a altura em que muda de blog.
Estou muito zangada. Zangada com a vida e com algumas pessoas. Muitas pessoas, infelizmente. Estou zangada porque o Guilherme não é compatível com a irmã, com a Bia, e o jogo da loteria da vida é um jogo estúpido de batota.
Estou zangada porque é possível que, no meio dos leitores deste blog, um
deles seja o código PIN para a cura da Bia. Ou do João José, de que não
falei ainda e que, com apenas 8 meses, trava uma luta desigual contra a
puta da doença. Ou da Arina, que ainda não encontrou um dador
compatível.
São crianças que precisam apenas de tempo. Do tempo de todos aqueles que
ainda não se inscreveram como dadores de medula óssea, por falta de
vontade, porque se vai adiando, porque hoje têm que ir ao shopping,
porque aos fins-de-semana gostam de dormir até mais tarde, porque,
porque, porque...
São crianças cujas caras deveriam ser vistas na esfera íntima, serem
preservadas mas que há que expôr porque há gente a quem a campaínha da
solidariedade só toca quando vê um rosto, quando percebe que um nome não
é só um nome, que uma história não são apenas palavras contadas. Há que
mostrar que a Bia tem olhos azuis, que o João José tem um rosto redondo de lua cheia e que a Ariana
tem pele cor-de-chocolate de leite. E só mostrando pode ser que haja
esperança que alguém deixe de adiar o dia em que se dirige a um Centro de Histocompatibilidade para se tornar um possível dador.
Estou zangada. Estou zangada porque, há que dizê-lo com frontalidade,
pondo o dedo na ferida, sem eufemismos, estou zangada porque estas
crianças podem morrer nesta espera. Os olhos podem-se fechar, o rosto e o
tom de pele empalidecer para sempre. Estou zangada porque não consigo
abrir a cabeça de toda a gente que se cruza por mim e explicar-lhes que
podem salvar uma vida.
Estou zangada porque também sou mãe e morreria pela minha Ana, para a
salvar e porque há uma hipótese de alguém fazer isso pelos filhos dos
outros, sem morrer, sem sacrifício e vai vivendo adiando o dia.
Estou zangada porque sei que há gente que ainda está a ler este post,
gente para além dos que já desistiram de o ler porque lhes toquei na
ferida, porque não permitem que eu lhes aponte o dedo, porque querem
evitar a culpabilização, estou zangada porque sei que há gente que ainda
está a ler este post que pode ser o código PIN para a cura da Bia, do
João José e da Ariana e ainda nada fez para os salvar.
Do que estão à espera, caramba?"
Descaradamente roubado da Pólo Norte, Quadripolaridades!
Tornei-me possível dadora de medula óssea quando fazia uma reportagem a esse respeito para a universidade. E sim, tenho medo de seringas e até tava sozinha. Infelizmente ainda não salvei uma vida, mas não fiquei na expectativa. E se neste Natal todos pensássemos numa prenda diferente? Esta seria uma rica prenda :)
Nunca tinha lido nada do género pela blogoesfera e fico comovida que haja alguém tão sensível, preocupada e solidária. É por haver pessoas como a Coquinhas que eu já decidi que dia quatro de Janeiro darei sangue e irei informar como posso ser dadora de medula óssea.
ResponderEliminarBeijinhos :*
Ai, reparei agora ali a fonte :$
ResponderEliminarMas isso não invalida que o facto de ter postado isto faz de si alguém que inspira e que põem algo para fora com cabeça e coração. Vou passar no blog da Pólo Norte!
Beijinho :)