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Sempre que vejo uma velhinha com malas lembro-me da minha Avó A.
Eu tive a sorte de conhecer as minhas duas avós, e tive mais sorte ainda porque uma era do campo e a outra da cidade. Uma fazia-me cócegas, mostrava-me a ausência de dentes, usava sempre um alfinete ao peito onde prendia o fio da renda que fazia, usava óculos por vezes na ponta do nariz, tinha cabelo branco com um tótó atrás e usava combinação por baixo da roupa. A outra, felizmente ainda presente, é o meu porto-de abrigo, o meu mimo, usou saltos altos, cabelo sempre arranjado, perfume forte, unhas pintadas. Uma tinha buço, a outra não. Eu saí à primeira (ahahahah), mas a segunda apresentou-me desde cedo a cera depilatória :P
A minha avó A., a do campo, vinha regularmente até cá à cidade e eu lembro-me de a ir buscar ao autocarro, de ela vir de escuro e cheia de sacos. Os da roupa, o das batatas, do azeite, dos figos, da terra dela que é minha também. E hoje, sempre que olho para um velhinha carregada lembro-me dela com saudade, muita. Daquela saudade que me enche os olhos neste momento. E penso no que ela pensaría em cada viagem, penso se também ela estaría eufórica para sair do autocarro. Se a avó A. não tivesse partido cedo demais, hoje seria eu que a iría visitar e buscar muito mais vezes. Já teria conhecido o meu H. e iria gostar tanto dele como sempre gostou do meu cunhado, e ao contrário de outros tempos agora sería eu a ir para lá com o meu namorado e com os filhos da minha irmão para irem ver a avó. Tenho pena, muita mesmo, por a vida não me ter permitido viver esta idade adulta com a minha avó A.
Sempre que vejo uma velhinha com malas eu lembro-me dela. Recordo que quando vinha eu nunca queria dormir com ela porque ela não queria a TV ligada, e depois chorava por ela ir embora. Lembro-me de como era bom ir buscá-la para bem mais perto de mim. Lembro-me do amor que ela tinha por nós. Lembro-me de como me fez tão, mas tão feliz. Lembro-me que acordar com ela foi e será sempre o acordar mais bem-disposto que alguma vez já tive. Lembro-me o que ela representou e representa para mim. E por isto tudo e muito mais, doi-me o coração cada vez que vejo uma velhinha com malas...porque essa não é mais a minha e agradeço aquela que ainda cá tenho, que já não vejo de saltos altos, é certo, mas que me ama como nunca ninguém o saberá fazer e me adormece da forma mais doce do mundo.

Comentários

  1. Também revejo as minhas avós nas senhoras idosas que por vezes por mim passam. Sinto uma saudade imensa também, pois partiram cedo demais. Mas a vida é mesmo assim, e é imensamente bom recordarmos as pessoas de quem gostamos e já cá não estão.

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  2. Pessoas cuja importância é inigualável. :)

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